quinta-feira, 1 de março de 2012

1987: Odisseia na Europa

Domingo, 31 de Maio de 1987. Estádio do Restelo. Última Jornada do Nacional da 1ª Divisão. Época 86/87.
O jogo acaba com a vitória do Desportivo sobre o Belenenses, um a zero, como golo de Garrido aos 37 minutos. O Chaves acaba o Campeonato em 5º lugar com mais três pontos que o adversário deste dia.


Quarta-feira, 16 de Setembro de 1987. Taça UEFA. Época 87/88. 1ª Eliminatória. 1ª mão.
O Desportivo chega a uma vantagem de dois  golos (Gilberto e Vermelhinho), os romenos recuperam e fazem três golos. Eliminatória em aberto.





Quarta-feira, 30 Setembro 1987. Estádio Municipal de Chaves.
Naquele dia, na cidade, o termómetro assinalava que a febre azul-grená atingia os seus máximos de sempre, era o Chaves na Europa e não existia mais nada para além disso. Uma escola ali bem perto do estádio também era atingida pela "onda de choque" e naquela quarta-feira, numa sala de aula repleta de miúdos com pouco mais de dez anos, fazia-se um pequeno motim. O professor, adivinhando o fracasso das tentativas de controlar aquele alvoroço, ou quem sabe, porque também ele não queria perder o momento histórico, dá a aula por terminada pouco depois de começar. Seguiu-se, entre gritos eufóricos, uma correria pelos corredores, depois pelo recreio até ultrapassarem o portão do Ciclo, que naquela altura ainda não era Nadir Afonso. Sem que ninguém os impedisse. Livres, quais Capitães da Areia de Jorge Amado. Correram até ao estádio, mas foi como se voassem. E mal sabiam que se tratava de um momento único nas suas vidas. Cruzaram os portões do estádio com a mesma facilidade que tinham atravessado os da escola. O Topo Norte cheio. Bandeiras, cachecóis, confettis feitos de pedaços de folhas de jornal. Festa. Já estão todos os flavienses dentro do estádio? Então o jogo pode começar! Não foi bem assim, mas não devem ter sido poucas as lojas fechadas e as folgas nesse dia.
Anunciavam-se os onze heróis que subiriam ao relvado com a camisola do Grupo Desportivo de Chaves.

Padrão, Cerqueira, Jorginho, Garrido, Gilberto, Diamantino, Vermelhinho, David, Radi, Slavkov, Serra.
Treinador: Raúl Águas.
(Jogaram ainda: Júlio Sérgio e Vicente)

As equipas entram em campo. Eu, impressionado com a figura do homem mais alto que alguma vez vira, volto-me para o colega ao lado e digo-lhe, cheio de certeza, que é impossível, que ninguém consegue meter a bola na baliza daquele gigante com o "1" do Craiova.
Mas não existiam desafios inalcançáveis para aquele Ferrari com a ponte romana sobre o Tâmega como símbolo, e os golos de Vermelhinho e Slavkov chegaram para que continuássemos naquela corrida chamada UEFA. A sonhar!
Chaves era conhecida pelo castelo, os pastéis, a ponte romana, o folar, o saber receber, o Tâmega, Nadir Afonso, as termas. Se dúvidas houvesse, naquele dia o Desportivo subiu definitivamente ao patamar de bandeira da cidade.



Quarta-feira,  21 de Outubro de 1987
Neste dia, a mesma expectativa, a mesma inquietação. Á porta de uma sala de aula, ainda no corredor, um grupo de miúdos rodeia o professor. Da sua boca sai que desta vez não há "feriado". Um pequeno grupo de "valentes" volta costas e larga em nova correria pela escola. Novamente Capitães da Areia, donos do seu destino. Eu, com dez anos, corria para a minha primeira "balda", em nome daquele Ferrari Azul-Grená conduzido por Raúl Águas.
O golo de Radi não chegou sequer para o empate contra a equipa húngara onde Puskas começou a carreira. Mas Chaves não desistia da sua equipa.

Sexta-feira, 4 de Novembro de 1987.
Apesar de o dia de todos eles ter já passado, as barraquinhas da, naquele tempo, quase eterna Feira dos Santos continuavam a encher os passeios da rua em frente ao Ciclo. Foi para lá que fugimos no intervalo entre duas aulas. Encavalitados para conseguirmos ver alguma coisa no minúsculo ecrã daquele aparelho portátil de um feirante.O Honved mete mais uma bola na baliza e o sonho acabava ali. A grandeza daquela equipa do Chaves estava precisamente aí. Acreditávamos realmente que eram capazes de tudo. Perder, ainda que fosse com um histórico europeu e quase crónico campeão húngaro naquela década, parecia-nos pouco provável.

Agosto de 2011. Estádio Municipal de Chaves.
Subo as escadas que vão dar à loja do Desportivo. Levo pela mão uma criança. Entro e pergunto se já chegaram as camisolas do "Chaves na Europa". Dizem-me que sim. Visto uma. Algo me impede de a voltar a tirar. Saio para a rua. Tenho a secreta esperança de que estejamos novamente naquela quarta-feira de 1987 e eu possa explicar ao meu filho porque Sou do Chaves até Morrer, Aconteça o Que Acontecer!!


(foto cima: http://gdchavesantigo.blogs.sapo.pt/)

(foto baixo: youtube)


Algumas Curiosidades:
Quarta-feira, 16 de Setembro de 1987. 1ª mão. Universitatea Craiova 3-2 Grupo Desportivo de Chaves

Quarta-feira, 30 Setembro 1987. 2ª mão. Grupo Desportivo de Chaves 2-1 Universitatea Craiova  
(ficha do jogo)

- Em 1987 o guarda-redes da equipa era Silviu Lung e media 1,94m (realmente, era muito alto!).

- Na equipa que jogou contra o GDC, alinhava na defesa "Gica" Popescu que viria a jogar no Barcelona, Tottenham e PSV e naquela selecção da Roménia do Mundial de 1994.

- Na época 82/83 o clube chegou à semi-final da Taça UEFA (eliminado pelo Benfica pelos golos fora)

- O guarda-redes do clube entre as épocas 2008/09 e 2010/11 voltou a chamar-se Silviu Lung. (filho do outro de 1987, mas mais baixinho!).


Quarta-feira,  21 de Outubro de 1987. 1ª mão.
Grupo Desportivo de Chaves 1-2 Budapest Honved FC
Sexta-feira, 4 de Novembro de 1988. 2ª mão.
Budapest Honved FC 3-1 Grupo Desportivo de Chaves

- Entre 1984 e 1989 o clube só não foi campeão húngaro uma vez.

- Nos anos 50 jogaram no clube jogadores como Ferenc Puskás, Sándor Kocsis, József Bozsik e Zoltán Czibor. Antes passou por lá o treinador Béla Guttman (os benfiquistas devem saber quem é!)


Domingo, 31 de Maio de 1987. Estádio do Restelo. Última jornada do Nacional da 1ª Divisão. Época 86/87.

Clube de Futebol "Os Belenenses" 0-1 Grupo Desportivo de Chaves
Onze incial: Padrão, Vivas, Garrido, Jorginho, Cerqueira, Diamantino, David, Júlio Sérgio, Gilberto, Radi, Jorge Silva.
Banco: Fonseca, Raúl, Ferreira da Costa, Fontes, César.
Treinador: Raúl Águas

2 comentários:

  1. Obrigado por este bom momento, muitas vezes recordei estes quatro jogos e tentava recuperar estes dados.
    Vamos orgulharnos destes tempos e juntar este orgulho Flaviense e levar o nosso G D CHAVES a élite do nosso futebol.
    Vamos começar por divulgar este belo trabalho para tocar o coração de todos os nossos conterraneos espalhados pelos 5 continentes.
    Bem haja.
    Saudações flavienses
    Ilidio Pereira Guedes

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    1. Caro Ilidio,
      Obrigado pelas palavras. É sempre bom saber que mais pessoas, tal como eu, não esquecem estes tempos e continuam como o Azul-Grená na Alma.
      Abraço Flaviense.

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