quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ode aos perdedores...

Athletic Club pede a final.
O lado dos perdedores, é sempre esse o meu quando acaba uma final.
A final do Euro 2004, a final da Taça UEFA em 2005, a final da Taça de Portugal em 2010. As mais importantes, as irrepetíveis, sempre a derrota. Portugal, Sporting e Desportivo de Chaves
Poder-se-ia dizer até que tenho uma inexplicável atracção pelos que perdem, pelo "bando dos perdedores". Lembro-me daqueles jogos da ACB, a liga espanhola de basket, ao sábado de manhã. Apanhava os jogos pelo meio e o Real Madrid ou o Barcelona inevitavelmente na frente, dava por mim sempre a torcer pelos "Davides" daquele dia, os Coren Orense, os Taugrés Vitoria, sem nenhuma ligação a eles, quase sempre perdedores para os "Golias", a roer as unhas para que aquele americano que não conhecia marcasse o triplo milagroso em cima da hora, pela glória efémera de uma vitória que nunca seria minha.

Foi assim com o Athletic, o clube do San Mamés, a eterna "Catedral" do futebol espanhol. O clube criado por ingleses que não permite que lá joguem os nascidos para lá das fronteiras da Euskal Herria, a "nação" que junta o País Basco e Navarra, em Espanha, e o Iparralde, o País Basco francês. O clube que com um número quase irrisório de recrutáveis para as suas cores (e que ainda tem que os dividir com a rival Real Sociedad), ganhou campeonatos e taças enquanto pôde, enquanto a diferença não se tornou demasiada. Até quando os outros, para além dos melhores espanhóis se puderam tornar "galácticos" com os melhores (e muitos) estrangeiros. Até 1984. Mas continuaram, fiéis a uma ideia, agarrados a um amor que vai para lá do futebol. A partir de 84, mais a aguentar que a vencer, ainda com dignidade para um vice-campeonato em 1998, ano do centenário. Continuaram, com uma força que os levou a nunca terem descido á "segunda", os únicos em conjunto com Real e Barça.
O Athletic tinha que ganhar. Iraizoz, Aurtenetxe, Iturraspe, Susaeta, Iraola ou Muniain são nomes demasiados perfeitos, demasiado românticos para que a realidade lhe retire o esperado final feliz. Aquele conjunto de miúdos sem barba nem "cabedal" que Marcelo Bielsa transformou em grandes jogadores de futebol não podia perder. Aquelas lágrimas são o sonho de criança desfeito, o mesmo sonho partilhado por todos eles, com o mesmo escudo ao peito sonhado por todos eles, a taça que todos levantaram vezes sem conta, deitados na cama, no escuro dos seus quartos antes de adormecerem. Depois de mais um jogo em San Mamés, em que todos eram o ídolo Julen Guerrero, o que continuaria para sempre de rojiblanco apesar do assédio dos milhões dos colossos europeus. Os tais milhões que compraram o instinto do colombiano Falcao e a magia do brasileiro Diego não podiam vencer. Não desta vez.

"Los perdedores siempre tienen más carne, más chispa, más sustancia, son los personajes que recordamos. El Quijote y Sancho Panza, por ejemplo. ¿Quién se acuerda, en cambio, de un personaje de Tom Wolfe? Nadie. La literatura es el paraíso de los perdedores".  Luis Sepúlveda, escritor chileno.

(foto: http://www.noticiasdenavarra.com)

2 comentários:

  1. É normal numa situação de neutralidade sentir-se simpatia pelo menos favorito. Neste caso, vai-se além disto porque o Athletic é um clube valoroso que deixar-lhe-á muito pouca gente neutra. Se do outro lado juntarmos um clube "mais abastado", então torcer pelos Bascos é uma inevitabilidade. Nisto de finais tenho pessoalmente dificuldade em encontrar perdedores; de todas as grandes finais que recordo guardo na memória vencedores e derrotados, sempre: é como se fosse uma prova dentro da proca, a partir do momento em que 2 clubes apuram-se para uma final é como se o último jogo já não fizesse parte do torneio.

    Ganharam muito os Bascos, indicutivelmente, e quanto ao Atlético bom, 2 Liga Europa que fá-los para todos os efeitos bi-campeões Europeus e permite-lhes de certa forma "aproximar-se" de Barcelona e Real. Não vi a final, mas não deixo de perceber o resultado como algo surpreendente. Mais surpreendente ainda: a eliminação do Valencia nas meias. Deverá a equipa de Madrid ter muita competência, caso contrário não teria conseguido 2 resultados tão brilhantes. A ver vamos o que farão no próximo ano, na Liga doméstica, com Simeone de início.

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  2. Bi-campões nunca porque o ano passado quem venceu foi o FCP ... fica a correcção.

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