sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

"Maradona by Kusturica"

Documentário de 2008, para entender melhor um homem muito particular, visto pelos olhos do não menos singular Realizador sérvio Emir Kusturica (também músico no seu projecto Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra) e autor de filmes como "Underground" e "Gato Preto, Gato Branco".








"Maradona by Kusturica"

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Dias de Tempestade

Sexta-feira, 20 de Dezembro de 1996. Chaves.
Olho para as paisagens desenhadas nos painéis de azulejos da estação sem realmente as ver. Levanto a cabeça na direcção do enorme relógio que emerge da parede. Posso jurar que o ponteiro mais comprido devora os minutos mais depressa do que é costume. Não vou chegar a tempo. Por fim a voz do costume, "...senhores passageiros, vai dar entrada na linha número um, o comboio regional com destino a Porto-Campanhã...". Ponho a mochila ás costas e salto para dentro da carruagem. O comboio insiste em parar em infinitas estações e apeadeiros com pouca pressa em chegar ao destino. Campanhã. Troco de "diligência" até São Bento. Corro pela Rua Sá da Bandeira,  para não perder o autocarro, desta vez sem reparar na fachada que diz que o melhor café é o d'A Brasileira. Chego a Chaves. Sou recebido por uma chuva miudinha. A imponência do Castelo obriga-me a olhar de relance para ele. Atravesso a Cidade. Paro em casa para "despejar" a mochila. Sai-me apenas um "tudo bem? vou ver o jogo". Como resposta ouço um "vais assim....não comes nada?". Agarro qualquer coisa para comer e já estou a sair. Ainda me chega aos ouvidos um "Olha que está a chover! leva o guarda-chuva". Não levo. Avisto a  parede de pedra do estádio e ganho fôlego para continuar em passo de corrida. A chuva ganha mais força. Uma cara atrás de uma abertura com rede metálica diz-me o preço dos bilhetes. Topo Sul é o mais barato. Contorno o estádio já com a roupa encharcada colada ao corpo. O jogo já começou. Devo ter perdido dez ou quinze minutos. Encosto-me á parede na esperança de que assim a chuva se esqueça de mim. Devia ter trazido o guarda-chuva. Alguém me oferece abrigo debaixo do seu. Aceito. Como se ainda valesse a pena. No relvado, uma batalha. Onze guerreiros de azul-grená, onde se inclui um armada espanhola, combatem um exército de onze verdibrancos. O dilúvio e o frio do inverno transmontano que os castiga transformam o jogo numa batalha épica. Não há golos. Minuto setenta e seis. Junto à linha de meio-campo, levanta-se a placa "7". Ricardo, de leão ao peito, abandona o campo pelo lado oposto, directamente para a "cabine" dos visitantes. "Gooolooooo". Parte do estádio levanta-se eufórico. Á minha frente, da entrada para os balneários, em voo, punho no ar, como se de uma figura de banda desenhada da japonesa Manga se tratasse, emerge novamente Ricardo. Rebelde, visceral, excessivo. Em frente, a claque azul-grená, incendiada pela provocação. Ricardo continua. Dentes cerrados, agora com os pés fincados no chão, joelhos flectidos e os dois punhos para a frente, apertados. É o que mais festeja. Como se a sua vida dependesse daquela bola ter entrado na baliza. Não há dúvida que tem coração de leão. Dirijo a atenção novamente para a relva. O árbitro gesticula. O golo não vale, é anulado. A claque flaviense tem a sua vingança, esta servida ainda a quente. A rede que separa aquela fúria transmontana do relvado abana com a força dos braços revoltados, com a raiva dos protestos contra o jogador. Ricardo desaparece novamente no túnel. A "batalha" termina. Zero a Zero.

Quinta-feira, 16 de Fevereiro de 2012. Varsóvia.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O Meu Pé Esquerdo

Entro no carro, ligo o rádio, "....notícia do dia.....Domingos Paciência já não é treinador do Sporting! Para o seu lugar é promovido, o até agora treinador dos juniores, Ricardo Sá Pinto...."
Um sopro,....lá vamos nós outra vez, penso eu, adivinhando a "balbúrdia" que se avizinha, e sem saber se ficar triste ou contente......


No início da década de 90, eu arriscava-me a ser desses poucos portugueses, mesmo os que não ligam "à bola", que não torcem por nenhum dos três grandes. Os anos de ouro do Desportivo de Chaves não tinham deixado espaço para mais. Nem a influência familiar vermelha, nem o recente calcanhar de Madjer me tinham atraído para a "causa".
Do Sporting, sentia admiração por uns adeptos que se mantinham fiéis e enchiam o estádio apesar de não ganharem o campeonato há muitos anos.
Enquanto o mundo prestava mais atenção a uma estrela búlgara em ascensão, Hristo Stoichkov, que tinha chegado a Barcelona para fazer história no Dream-Team de Johan Cruyff, chegava a Alvalade, silenciosamente, vindo do mesmo país , um jogador com o nome de Krassimir Guenchev Balakov, de 24 anos.
Mas depois de Radi, eu já sabia o que podia valer um búlgaro chegado de forma quase anónima e este, esquerdino, cabelo encaracolado e com o "10" nas costas, fazia-me lembrar alguém!
Não me enganei, e por "culpa" dele, de camisola verdibranca da UMBRO com os dizeres "bonança" vestida comecei a prestar atenção aos jogos do clube com o escudo do Leão.
Os livres directos, os penaltis à Panenka, as arrancadas desde o meio campo à Maradona. Golos de pé esquerdo, pé direito, de dentro e de fora da área, passes, assistências e tabelinhas. Um verdadeiro compêndio do futebolista total!
Espero até que a memória me atraiçoe e não tenha sido mesmo ele a marcar de canto directo ao meu Desportivo.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

"Meu Coração Não Tem Divisão"


Em 2008 o Corinthians "caiu" na série B brasileira, um grupo de três fotógrafos acompanhou a torcida do Timão, considerada a mais apaixonada do Brasil,  pelos campos da 2ª divisão e produziu uma foto-reportagem a que chamaram: "Alma de Torcedor - Meu Coração Não Tem Divisão".
Um grande exemplo de adeptos que chegaram a fazer 27 horas de viagem pelo país, "apenas" para apoiar o seu clube!


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Em Nome do Pai (uma carta para Rivaldo)

 Caro Rivaldo,

Num dia de Janeiro deste ano, ao abrir os jornais do dia ou os habituais sites da internet, todos referiam com maior ou menor destaque, a noticia, que tu, aos 39 anos, ias jogar para um clube de que eu nunca tinha ouvido falar, do Girabola, o quase incógnito campeonato Angolano!
Muitos logo disseram que "arrastas" demasiado a tua carreira.
Mas eu digo-te, ainda bem continuas! Com certeza que não é por dinheiro, a glória a que chegas-te em Barcelona com certeza que se traduziu eu igual sucesso para a tua conta bancária.
Depois de jogares em clubes como o Palmeiras, Deportivo da Corunha, FC Barcelona e AC Milan, de onde saíste com 31 anos, podias ter ido pelo caminho mais fácil e dito os habituais, "retiro-me enquanto ainda estou no auge" ou "já não tenho prazer em treinar". Mas não, continuas-te!  E sabes uma coisa? Fizeste bem! 
Jogas-te na Grécia, no Uzbequistão, voltas-te ao teu Brasil e agora vais para o Girabola. Eu, se tivesse o teu talento, faria como tu!
Quero acreditar que continuas a jogar porque amas o jogo. Aconteceu jogares no Camp Nou e no San Siro, mas estou certo que continuarias a disfrutar da mesma maneira se nunca tivesses saído do anónimo campo de Gonzagão, lá no Nordeste Brasileiro, onde jogavas quando ainda eras o "Vado do Seu Romildo", o moleque pobre e subnutrido que jogava descalço, ou talvez jogues em memória do teu Pai "Seu Romildo", que com grande sacrifício te ofereceu as tuas primeiras chuteiras, quando já tinhas 13 anos!
Quando chegas-te ao Super-Depor, eu nunca tinha ouvido falar de ti, a verdade é que só reparei quando começas-te a fazer aqueles remates de fora da área, fazias aquele movimento só teu, ficavas suspenso no ar, a bola saia-te do pé esquerdo e, talvez agradecida pela forma delicada como a tratavas, mantinha-se ali, a um palmo da relva e já todos sabiam que ia entrar na baliza juntinho a um dos postes, estivesse na porteria um guarda-redes da 2ª divisão num jogo da Copa, ou fosse o soberbo "Gigi" Buffon em partida da Champions. 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

À Noite Logo se Vê...

Quantas vezes terei pensado ou dito, no Topo Norte do Municipal, durante um jogo, depois de um fora-de-jogo duvidoso, um penalty não assinalado ou um golo anulado, a frase: "à noite logo se vê, no Domingo Desportivo".
A ironia é que o apresentador do Domingo Desportivo que melhor me recordo (ou talvez de uma das suas reencarnações com outro nome), Mário Zambujal, escreveu em 1986 um livro chamado precisamente "À Noite Logo se Vê". Não sei bem por que me ficou ele mais "gravado" na memória do que outros, talvez por ser aquele que seria menos provável a apresentá-lo, porque outros que por lá passaram, como Ribeiro Cristóvão, Gabriel Alves, Cecília Carmo ou Rui Tovar, os vi apresentar tantas outras coisas depois, que não ficaram apenas associados a este programa.
Penso que o sucesso do programa tinha a ver com a sua simplicidade, pouca "conversa", apenas uma ou outra entrevista, e depois os muito esperados resumos e "casos" da jornada da 1ª Divisão, das ligas estrangeiras (de que outra maneira podiam os portugueses ver os golos do Futre?, bem... havia aqueles que tinham a tv espanhola, mas essa, é outra história!) e até das modalidades, para além da lendária secção "golo da jornada". Haverá uma geração de portugueses, pelo menos, que deve muito do seu gosto pelo futebol, e pelo desporto em geral, a este programa.
Recordo-me de ficar acordado até muito tarde! Quer o jogo do Desportivo fosse fora, ou em casa e eu o tivesse visto no estádio, lá ficava eu ansiosamente à espera que o programa começasse para ver o resuminho do jogo!
Quando o jogo era fora, ouvia o relato na Rádio Larouco, mas depois era obrigatório ver o resumo para saber se os golos tinham sido como eu imaginava ou mesmo confirmar se o árbitro se tinha mesmo "esquecido" de marcar aquele penalty sobre o Radi, no empate no Estádio da Luz, como o relatador tinha dito!